sexta-feira, 22 de junho de 2007

"Mais estranho que a Ficção"


Esta é uma comédia dramática que foi injustamente ignorada nas indicações ao Oscar e também não fez sucesso nos cinemas americanos. Depois de um início promissor, acabou fracassando. O máximo que conseguiu foi uma indicação para seu astro Will Ferrell na categoria de melhor ator de comédia do Globo de Ouro. Ele tem um estilo cara-de-pau muito particular, que é preciso conhecer melhor para apreciar. O roteiro do novato Zach Helm adota a linha dos trabalhos de Charlie Kauffman ("Quero Ser John Malkovitch", "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" etc.), ou seja, é um exercício em metalinguagem, brincando com a narrativa e o espectador. Tudo é muito bem conduzido pelo diretor Marc Forster (de "Bem-vindo à Terra do Nunca"). Uma das coisas que parecem estranhas em certos filmes é a chamada narrativa em voz off, ou seja, uma voz que se ouve, como se fosse o pensamento de alguém, e que em geral conta a história, interferindo e comentando a trama, por vezes de forma literária, mesmo pedante. Aqui se conta a história de um sujeito comum que fica muito espantado quando descobre não só que é um personagem, mas também que vai morrer em breve. Isso o leva ao pânico e a procurar a escritora, um papel feito com a competência habitual por Emma Thompson. O engraçado é ver o herói, chamado Harold Crick, lutando para entender o que está acontecendo e depois para evitar a morte que a escritora planejou. Há também um romance encantador entre ele e uma vendedora de pães que não acredita em pagar impostos (Maggie Gyllenhaal). E finalmente a participação de um professor especialista na obra da escritora, a quem Crick recorre, pedindo ajuda. É um papel que adquire maiores dimensões porque é feito por Dustin Hoffman. Aliás, o filme ganha mais pontos pela participação de atores importantes como Linda Hunt, Tom Hulce (de "Amadeus", voltando ao cinema depois de anos) e a estrela da Broadway Kristin Chenowith. Depois deste filme, um dos mais inteligentes dos últimos tempos, teremos dificuldades em levar a sério o recurso da narração em off.

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