quarta-feira, 1 de maio de 2013

Amor

Amor é um filme francês que conta a história de uma senhora que vai perdendo os movimentos do lado direito do corpo. É o cotidiano (e o amor) de um casal de velhinhos, onde um faz tudo pelo outro. No elenco dois grandes nomes: Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant, com interpretações fabulosas. Achei impressionante o detalhe de cada cena e a construção do roteiro, fazendo, desde o início, com que o espectador reveja alguns conceitos e mude a forma de olhar (ou de julgar) as pessoas. Muito boa a cena em que todo o foco é voltado para a plateia, sem mostrar o espetáculo, frisando que não vamos assistir o que já estamos acostumados. O foco é outro. A trama faz a gente desconstruir a nossa maneira de pensar e reformular sobre opiniões já tão concretas em nossas mentes.

Achei impressionante a entrega da atriz Emmanuelle Riva. Ela se desprendeu de qualquer pudor e viveu intensamente aquela personagem. Eu ficaria feliz se a estatueta do Oscar de melhor atriz tivesse parado nas mãos dela. O filme mistura desespero e tristeza sem que isso se torne exagerado. Tudo é intenso e emocionante de forma singela. E a gente se dá conta de que qualquer um de nós poderia estar naquela situação. É uma tristeza de mão dupla: de quem cuida e de quem é cuidado. Dá uma sensação estranha de impotência, já que qualquer um de nós pode chegar naquele estado em algum momento da vida.

É fascinante de ver como o filme é bem feito. Toda a trama se passa, quase que inteiramente, dentro do apartamento, e em momento algum a história fica cansativa. Temos que aplaudir, de pé, o cinema de Michael Haneke, que consegue, em um espaço pequeno e com poucos personagens, transformar um roteiro aparentemente monótono em um filme fantástico. Sabe-se que o final não é feliz desde o primeiro minuto, mas nota-se logo de cara que o importante não é o fim.

Minha avó materna passou por uma trajetória parecida, apesar de ter sido uma doença diferente. E, pra mim, foi emocionante reviver aquilo tudo de novo. Quem já passou por algo parecido na família, sabe o quanto é marcante ver uma pessoa querida indo embora aos poucos. E o filme fez eu lembrar de muita coisa da minha história. Posso afirmar o quanto esse filme é positivo e importante para as pessoas. Michael Haneke soube chegar no retrato de qualquer família e conseguiu deixar a gente de frente com uma realidade que parecemos esquecer. Ninguém está imune de envelhecer. E a trama retrata o amor na terceira idade da forma mais incrível e mais verdadeira que existe. Um dos melhores, e mais especiais, filmes que já vi (e vivi).

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