
Pablo Larraín apresentou ao público um dos filmes mais
polêmicos dos últimos tempos. O chileno O Clube é praticamente uma afronta à
Igreja Católica. A história se passa em uma casa em uma cidadezinha pequena,
onde um grupo de padres vive em confinamento. Eles são afastados da Igreja por
algum tipo de mau comportamento. Há o padre pedófilo, o
que foi conivente com
crimes da ditadura militar, o traficante de bebês e etc. Cada um daqueles
religiosos tem uma espécie de "currículo negativo" contra tudo que
não se espera de um padre, e para não irem pra cadeia eles precisam viver
aquela reclusão religiosa obrigatória.

O filme é muito interessante, mas não tem nenhum tipo de
beleza fotográfica. As cenas têm uma filmagem sombria e nos deixa com a
impressão de que aquela paisagem "suja" foi feita de propósito. A
impressão que eu tive foi de que tudo está estragado por conta daqueles seres
humanos horríveis, e a luminosidade ruim amplia o sentimento de repulsa que
temos diante daquelas pessoas. E isso é um ponto positivo, ok? É igual quando
odiamos um vilão. Sinal de um trabalho bem feito. Falando em vilão, vale
ressaltar que não há nenhum rastro de mocinho na trama. Não tentem encontrar
algum personagem para torcer por um final feliz. Não existe felicidade no
roteiro. Não é o Clube do Bolinha. O filme traz uma infelicidade de alma dentro
daqueles personagens com uma carga pesada e profundamente abominável.

O Clube não veio para agradar todos os estômagos, isso
precisa ficar bem claro. Visualmente, o filme é desprovido de qualquer tipo de
sensação agradável. Trata-se de pessoas psicologicamente doentes, e tudo em
volta parece contaminado de alguma forma: a filmagem, os personagens, a cidade,
a fotografia, o público. A sensação que temos é de que tudo ali parece estar
podre. É preciso fazer um trabalho muito bem elaborado para se conseguir chegar
nesse extremo desconforto com a putrefação humana. E Pablo Larraín acertou,
fazendo nascer um filme interessantíssimo do desagradável. O Clube é vencedor
do Urso de Prata no Festival de Berlim deste ano, e veio mesmo para
desconcertar a Igreja Católica e tirar a lama escondida debaixo dos tapetes.